Cada vez menos verde

Em oito anos, o Ceará destruiu quase 188 hectares de Mata Atlântica, o equivalente a 288 campos de futebol. Restam 16,5% da cobertura vegetal original.
Viçosa do Ceará foi o município que teve mais mata destruída (BANCO DE DADOS)
Restou pouco, mas a Mata Atlântica remanescente no Ceará continua sendo destruída. De acordo com estudo divulgado pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe) e Fundação SOS Mata Atlântica na quinta-feira, em oito anos (2002-2010), 188 hectares do bioma foram desmatados no Estado. Considerando área de 8.250 m² para um campo de futebol (110m x 75m), é como se 288 campos tivessem sido destruídos.
Viçosa do Ceará foi o município que teve mais mata destruída (BANCO DE DADOS)
O estudo leva em conta destruição em áreas de mata, mangue e restinga (vegetação características de trecho de praia). O município líder na devastação é Viçosa do Ceará, com 74 hectares a menos de Mata Atlântica. A cidade fica na região da Serra da Ibiapaba, que junto com as serras de Guaramiranga e Monsenhor Tabosa ainda abrigam áreas remanescentes do bioma no Ceará.

De acordo com Jorge Phonzoni, pesquisador do Inpe, apesar de preocupante, a área de Mata Atlântica desmatada no Ceará “não é algo muito alarmante” se considerarmos o período de oito anos analisado.

Jorge pondera que não foi possível registrar imagens de todo o Estado por conta da cobertura de nuvens no momento em que o satélite faz o registro. No Ceará, 63% do território foi coberto pelo Inpe.

O pesquisador lembra que apenas desmatamentos maiores do que três hectares -o equivalente a 3,6 campos de futebol - são registrados pelas imagens do satélite. “Só detecta o que já foi desmatado. É diferente do que ocorre na Amazônia, onde é possível mover a polícia para onde está se deslocando o desmatamento”, compara.

Prevenção
A coordenadora de políticas ambientais do Conselho de Políticas e Gestão do Meio Ambiente (Conpam), Maria Dias, diz que o Governo do Estado foca em ações de prevenção e proteção. Por meio do programa Previna, agricultores são formados com práticas de proteção da floresta e de recuperação de áreas degradadas.

Ela cita ainda a formação de cinco brigadas de incêndio com guardas municipais de municípios do Interior. “Também temos formado pessoas para o combate (do fogo) em um primeiro momento para em seguida ser acionada a brigada”, explica Maria Dias.

As ações listadas pelo coordenadora de políticas ambientais integram o projeto Mata Branca, com foco na Caatinga. Dos municípios que recebem o projeto, apenas Itapipoca fica no litoral do Estado, região que abriga a restinga, ecossistema da Mata Atlântica.

Por quê
ENTENDA A NOTÍCIACom atividades focadas na Caatinga, que cobre 46% do território do Estado e também está ameaçada, faltam ações do Governo do Estado específicas para a Mata Atlântica. No Brasil, foram 31.195 hectares destruídos.

MATA ATlÂNTICA NO CEARÁ

Área de Lei da da Mata Atlântica: 910.698 hectares

Área remanescente: 150.283 hectares
(16,50% do total)


De seis estados nordestinos, Ceará é o terceiro em devastação da Mata Atlântica. Fica atrás de Pernambuco e Sergipe, 253 e 224 hectares devastados respectivamente

Além de Viçosa do Ceará, os municípios que mais desmataram foram Camocim e Paracuru, 36 e 24 hectares respectivamente.

Thiago Mendes
thiagomendes@opovo.com.br